quarta-feira, 27 de julho de 2011

Uma amizade nada provável

Este, sem dúvida nenhuma, é um dos meus filmes preferidos, pois trata de forma delicada e inesperada esta tão procurada e almejada amizade verdadeira. Trata de assuntos difíceis de ser digeridos até mesmo por nós, adultos, como bullying, depressão, alcoolismo, sexualidade, ódio, amor, morte, obesidade, confiança, dentre outros.
Baseado numa história real, o filme narra a vida de duas pessoas um tanto “diferentes” perante a sociedade, cujo destino tratou de unir e se fazer conhecer, mesmo que apenas por cartas trocadas.
Ele é Max, um judeu de 44 anos, portador da “Síndrome de Asperger”, uma doença mental em que o paciente não consegue desenvolver e nem expressar seus sentimentos, não consegue ler os sinais de comunicação não-verbais e vê o mundo de uma maneira muito literal, mora em Nova York, pesa 160 quilos e participa dos “Gordinhos Anônimos”, possui o sonho de morar na lua, simplesmente pelo fato de não querer contato com as pessoas. Ela é Mary, uma menina de 8 anos, solitária, não possui o amor e atenção dos pais, também é gordinha, mora na Austrália e seu único amigo é um galo. Apesar de todas essas diferenças há uma coisa que os une: a solidão. E é exatamente este sentimento que os une, incluindo todos os altos e baixos pelas quais a amizade passa e, principalmente, a capacidade que ambos têm em projetar no outro aquilo que desejam ser.
A situação familiar de Mary não é nada fácil, pois é filha de uma mãe alcoólatra e que adora depreciá-la, seu pai trabalha o dia inteiro numa fábrica e nas horas vagas pratica taxidermia em pássaros mortos que encontra pela estrada. Motivada por dúvidas que ninguém responde, Mary resolve mandar uma carta para um endereço aleatório, pego na lista telefônica de Nova York, e é assim que nasce a amizade entre ela e Max.
A partir de uma linguagem simples, o filme chama a atenção para os relacionamentos humanos através da beleza e da força que uma verdadeira amizade traz, uma amizade isenta de falsidades ou interesses. Mostra-nos a oportunidade de conviver com a diferença do outro e de aprender a respeitar essas diferenças, salientando a importância de construir uma amizade permanente e recíproca, uma doação contínua ainda que diante de alguns “defeitos”. Outra coisa que me chama a atenção no filme é o uso das cores: sendo que todas as vezes que Mary aparece, o tom usado é o marrom, já que é a cor predominante do seu desenho preferido “The Nobllets”, já com o Max os tons usados são o preto, o cinza e o branco, refletindo o mundo caótico em que ele vive. Aos poucos, vão entrando novas cores nesse enredo, como simbolizando o amor e afeto que um depositava no outro, dando uma nova visão de vida a essas duas pessoas que sempre foram tão solitárias e fechadas no seu próprio mundo, principalmente cores que contrastavam com o mundo preto e branco sem fim de Max, parecendo então, que esse mundo, ao dar espaço para Mary, já não era mais tão caótico assim. Outro fator interessante é a imagem que Mary mostra de si ao seu amigo, uma imagem sorridente e com o sol sobre a sua cabeça, pois apesar de se mostrar a maior parte do tempo como uma garota triste e melancólica pela situação vivida com os pais e na escola, é como se ela encontrasse um motivo que fosse suficiente para expressar-se de tal forma, para deixar, nem que por alguns momentos, de ser tão “infeliz”.  
A beleza desses dois personagens se encontra, dentre outros, na ingenuidade e de não esconder ou manipular aquilo que se passa dentro deles, algo sem limites e sem medo de expor e se expor. A maneira como é mostrada as relações interpessoais é impressionante: os personagens crescem, em idade e subjetividade, e seus problemas também, mas ainda assim, mesmo entre trancos e barrancos, continuam a se corresponder religiosamente, mostrando suas noções de vida e mundo.
Fecho essa resenha com a minha frase preferida do filme: A razão de eu te perdoar é que você é imperfeita. E eu também...” (Uma das cartas escrita por Max para Mary).


Um comentário:

  1. Adorei,nós também temos os nossos dias em branco e preto, e assim vamos indo dia a dia........

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