segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Menina do Sapato Vermelho

 
 

A menina não usava sapatos. Não porque não quisesse, mas porque seus pais eram tão pobres que não tinham dinheiro para comprar par de sapatos decentes como ela merecia. Ela só usava chinelos e um par de sapatos velhos quando ia para a igreja aos domingos. Na igreja a menina observava os pés das meninas. Apenas os pés. Não se importava com os vestidos com estampas miúdas de flores e nem com os vestidos com fitas coloridas, tampouco prestava atenção nas borboletas delicadas aplicadas com cuidado sobre o tecido de algodão. Se ela se interessava pelos babados que faziam com que as meninas parecessem um bolo de festa? Nem! As meninas ficavam como o bolo que ela via na padaria da esquina que ficava sempre cheia de gente gulosa e chique. A mãe da menina dizia que para aquela padaria iam as pessoas mais ricas da cidade. “Aqui, a bola do sorvete custa o mesmo que um pacote de arroz de cinco quilos do bom”, dizia sua mãe que nunca pudera comprar um pacote de arroz do bom. Aliás, com a evolução da enfermidade do pai da menina, comiam do que o padre mandava. O padre era gente muito boa que se preocupava com os seus paroquianos pobres. Ele juntava as migalhas que os paroquianos ricos deixavam na casa paroquial para doação a fim de terem suas culpas aliviadas e arrumava cestas de alimentos com a ajuda da dona Cida, senhora muito devota e caridosa que sempre esteve ao lado do padre desde que para ali ele chegou, quando ainda bem moço, recém saído do seminário. Em meio a conversas sérias e a fofocas, ele e a dona Cida organizavam com capricho as cestas de alimentos. Tomavam o cuidado para que todos tivessem os mesmos alimentos e o mesmo tanto de cada um deles.“Repartir, dona Cida. Repartir é o segredo. Jesus alimentou uma multidão com cinco pães e dois peixes. E é preciso ser justo”. A menina que não tinha sapatos decentes como merecia, não ligava para os vestidos e nem para os sorvetes e doces da rica padaria, mas achava um absurdo uma bola de sorvete custar o mesmo tanto que um saco com cinco quilos de arroz. O sorvete acabaria num minuto. O saco de arroz, bem regrado, duraria vários dias. A menina que não tinha sapatos, tinha muitos pensamentos, e pensava que não compreendia muitas coisas. O tempo passou para todos como deve passar e o pai da menina morreu, e a morte do pai trouxe tristeza, mas também trouxe alegria. E os pensamentos da menina pensaram que essa vida é muito esquisita: com a morte do pai, as despesas com remédios acabaram e, como não havia mais o pai para inspirar cuidados, a mãe pode trabalhar. “Vamos ter dois salários: a pensão do seu pai e o meu”,  disse a mãe. Assim que a mãe da menina recebeu a primeira pensão do marido, ela que sabia o quanto sua filha sonhava em ter sapatos decentes como ela merecia, a levou numa uma sapataria. O sapato escolhido foi comprado em prestações, era vermelho e de verniz. Os pés da menina doíam um pouco quando neles estavam calçados, mas aos domingos na missa, sentia-se como a princesa do sapato de vidro. A menina também ganhou vestidos. A mãe guardou o primeiro sapato decente que a menina teve. E a menina, mulher charmosa que se fez, tem sempre um par de sapatos novos vermelhos na sua sapateira.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Uma Casa Deve Ter



Uma casa deve ter...
Uma casa deve ter varandas para sonhar,
cantos confortáveis para chorar,
salas bonitas para os amigos bem receber,
cantos para os segredos desabafar,
para as confidências, e para o bem amar.

Uma casa precisa um ninho ser,
pois o amor precisa de espaço pra crescer,
de alguns empurrões para saltar e voar,
muita liberdade para querer ficar,
alguns espaços para conceber e procriar,
jardins para a alegria plantar.

Uma casa precisa de muito amor,
cuidados para não ter medo de alguém partir,
um pouco de ciúmes para proteger,
amizade para o companheirismo perdurar,
o dom de sempre surpreender,
e enfeitiçar sempre para durar.

Uma casa precisa ser um bom e doce lar,
com muita cumplicidade a esbanjar,
união e somatório para ter sempre o que dar,
família grande para ter a vida sempre a se doar,
um grande amor - lógico - para nos realizar."

Intertexto de “Receita de Casa” de Lia Luft
via EcoCasa Portuguesa
 
E nessa casa, em que todos são bem vindos, sei que tem tudo isso e mais um pouco, por isso brindo o meu retorno e o de vocês, com esse pequeno e singelo poema que uma amiga me fez tão bem em apresentar...
 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Urbana Legio Omnia Vincit

 
 
Sexta feira, 11 de outubro de 1996. Acordo na casa de uma amiga, e logo após o café, recebo a notícia " o Renato Russo morreu"! Na época, eu, com 11 anos de idade, sinto uma dor tomar meu coração, como se fosse alguém da minha família que tivesse morrido. Choro copiosamente (sem exagero).
16 anos passaram-se desde sua morte, mas a banda, na minha opinião, foi e sempre será a maior banda de rock desse país. Sou fã incondicional.
A música dos caras me remete ao passado, à situações, pessoas, alegrias, tristezas, enfim, me leva de volta à adolescência. Ela me faz lembrar pessoas que foram, que vieram, personagens que fizeram e ainda fazem parte da minha história imperfeita.
Renato Russo foi genial, sereno, um melancólico poeta romântico, muitas vezes piegas, e sempre visceral.
Hoje, homanegeio aquele que com suas músicas entrou na minha casa todos os dias, que em cada fase da minha vida embalou uma história e me deixou a seguinte lição: "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã", pois o para sempre não dura muito tempo.
 
 


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Amor Em Estado Bruto

 
Gente, é como digo, quando me faltam as palavras, sempre acho alguém que as use muito bem por mim ;)
 
 
 
 
"Tempo, pensamento, libido e energia são solteiros e morrerão assim, mesmo contra nossa vontade.
O que é, o que é? Faz você ter olhos para uma única pessoa, faz você não precisar mais ficar sozinho, faz você querer trocar de sobrenome, faz você querer morar sob o mesmo teto. Errou. Não é amor.
Todo mundo se pergunta o que é o amor. Há quem diga que ele nem existe, que é na verdade uma necessidade supérflua criada por um estupendo planejamento de marketing: desde criança somos condicionados a eleger um príncipe ou uma princesa e com eles viver até que a morte nos separe. Assim, a sociedade se organiza, a economia prospera e o mundo não foge do controle.
O parágrafo anterior responde o primeiro. Não é amor querer fundir uma vida com outra. Isso se chama associação: duas pessoas com metas comuns escolhem viver juntas para executar um projeto único, que quase sempre é o de construir família. Absolutamente legítimo, e o amor pode estar incluído no pacote. Mas não é isso que define o amor.
Seguramente, o amor existe. Mas, por não termos vontade ou capacidade para questionar certas convenções estabelecidas, acreditamos que dar amor a alguém é entregar a essa pessoa nossa vida. Não só nosso eu tangível, mas entregar também nosso tempo, nosso pensamento, nossas fantasias, nossa libido, nossa energia: tudo aquilo que não se pode pegar com as mãos, mas se pode tentar capturar através da possessão.
O amor em estado bruto, o amor 100% puro, o amor desvinculado das regras sociais é o amor mais absoluto e o que maior felicidade deveria proporcionar. Não proporciona porque exigimos que ele venha com certificado de garantia, atestado de bons antecedentes e comprovante de renda e de residência. Queremos um amor ficha-limpa para que possamos contratá-lo para um cargo vitalício. Não nos agrada a idéia de um amor solteiro. Tratamos rapidamente de comprometê-lo, não com o nosso amor, mas com nossas projeções.
O amor, na essência, necessita de apenas três aditivos: correspondência, desejo físico e felicidade. Se alguém retribui seu sentimento, se o sexo é vigoroso e se ambos se sentem felizes na companhia um do outro, nada mais deveria importar. Por nada, entenda-se: não deveria importar se outro sente atração por outras pessoas, se outro gosta de fazer algumas coisas sozinho, se o outro tem preferências diferentes das suas, se o outro é mais moço ou mais velho, bonito ou feio, se vive em outro país ou no mesmo apartamento e quantas vezes telefona por dia. Tempo, pensamento, fantasia, libido e energia são solteiros e morrerão solteiros, mesmo contra nossa vontade. Não podemos lutar contra a independência das coisas. Aliança de ouro e demais rituais de matrimônio não nos casam. O amor é e sempre será autônomo.
Fácil de escrever, bonito de imaginar, porém dificilmente realizável. Não é assim que estruturamos a sociedade. Amor se captura, se domestica e se guarda em casa. Às vezes forçamos sua estada e quase sempre entregamos a ele os direitos autorais de nossa existência. Quando o perdemos, sofremos. Melhor nem pensar na possibilidade de que poderíamos sofrer menos."

Por Martha Medeiros
 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aquilo Que Eu Não Gosto

 
 
 
Tenho mantido distância de auto-sabotadores. Sei como eles pensam e agem por que já fui uma. Quem se auto-sabota, pode sabotar qualquer um. Não gosto deles. Nem um pouco. Pessoas que fazem mal a si mesmas geralmente me fazem mal, pois despertam em mim sentimentos que são pesados demais pra eu ficar carregando. Por isso resolvi manter distância.
Quando digo que não gosto de pessoas assim, não estou falando daquelas pessoas que fazem mal a si mesmas no sentido físico, mas sim num sentido mais complexo. Por exemplo: todos sabemos que beber e fumar faz mal, certo? Não tenho problema com pessoas que fazem isso normalmente, mesmo porque tenho a minha abençoada cerveja no fim de semana, meu problema e desgosto são com aquelas pessoas que são viciadas e RECLAMAM, continuamente os efeitos negativos que as drogas estão causando em seu organismo. Elas sabem o que precisam fazer. Eu também sei. Mas não, preferem reclamar, reclamar e reclamar, de preferência com um cigarro numa mão e o copo de cerveja na outra. É perda de tempo ficar do lado de gente assim. É desgastante e eu não preciso disso.
Não gosto de pessoas que têm a convicção de que todo mundo gosta das suas piadinhas infames, preconceituosas e completamente sem-graça. Normalmente essas pessoas se acham engraçado, mas poucas pessoas dizem, de fato, que você é engraçado. 
Não gosto de pessoas que demonstram imaturidade e infantilidade num determinado momento e em outro quer ser tratado “com respeito” e seriedade (seja por causa da idade, ou do que for).
Pessoas que curtem “dar um jeitinho brasileiro” para absolutamente todas as coisas.Não gosto de pessoas que não são honestas consigo mesmo, logo também não gosto daquelas que não conseguem ser honestas com os outros.
Não gosto de pessoas que se vangloriam do seu sofrimento, das suas penitências, que aliás, não reconhecem como penitências, pessoas que adoram um status de mártir e pobre coitado, para assim as pessoas terem pena e elas conseguirem uma justificativa razoável para “ser quem você é” e “fazer o que quiser”.
Não gosto de pessoas que causam situações desconfortantes à todas as pessoas com quem você se relaciona. Pessoas que não têm culhões suficiente (mesmo que você seja mulher) para se impor, assumir seus desejos, suas vontades e sua vida.
Não, isso não é TPM! Não é um momento de revolta! É apenas um balanço de atitudes que não me agradam e que talvez, possam não agradar quem frequenta a casa da Chica Bilota.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Você é Feito de Que?



"Do que você é feita?" Ele me perguntou, sem mais nem menos.
Confesso que fiquei surpresa, pois não esperava que ele me fizesse uma pergunta assim. Parei. Pensei. Dei aquela coçadinha básica na cabeça (nesse momento senti um ponto de interrogação se formar em meu rosto). Respirei bem fundo, até conseguir sentir o ar caminhando entre os meus pulmões. Falei.
"Biologogicamente sou feita por células, membros, neurônios, articulações, pequenas cavidades, água, algumas bactérias e por uma recente miopia que não me permite enxergar o mundo só com os meus próprios olhos".
Parei de falar, assim como para recuperar o fôlego e quando dei por mim, ele me olhava com um olhar atônito, um sorriso meia boca e creio que com o mesmo ponto de interrogação que havia surgido em meu rosto há alguns segundos atrás. Fôlego recuperado, continuei. 
" Mas todo esse papo biológico pouco importa, porque o que me faz sentir viva vai muito além disso. Sou feita, verdadeira e completamente dos fatos que vejo, das músicas que ouço, dos livros que leio, dos amigos que me rodeiam, da família que me ergue, dos passos que dou em busca de bons caminhos. Sou feita do silêncio que volta e meia me deixo abraçar, dos amores correspondidos e dos que também não são, das mentiras e verdades, princípios e perspectivas. Sou feita dos sonhos realizados e dos não realizados, dos meus desejos, das minhas contradições, dos planos que em nada deram e daqueles que ainda estou para conquistar. Sou um corpo quente, com mãos e pés quentes e o sangue fervente. Enfim, acho que sou feita de inúmeros e misturados sentimentos num só universo".
Depois de ter dito tudo aquilo, ele me olhou com aquele olhar sério, sorriu um sorriso que não parecia ser bem um sorriso, apertou a minha mão e disse "ok, estamos entrevistando mais algumas pessoas e qualquer coisa a gente liga".
Eu não acho que essa ligação vá realmente acontecer...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Meu Ideal Seria Escrever...



Um dia, eu hei de escrever metade do que esse distinto senhor escreve. E eu hei de escrever algo tão engraçado que faça as pessoas rirem aquele riso de doer a barriga e faltar o ar, porque o riso é terapêutico, conforta o coração e desopila a mente cansada.

Por Rubem Braga
 
"Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro."

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Olimpíadas, a Gente Vê Por Aqui?


Por Rafael Farnezi

São ridículas as cobranças que recaem sobre os atletas brasileiros especificamente nesse período de Olimpíadas. Ter que ouvir de repórteres, ler em revistas e jornais aquele infeliz comentário de que fulano decepcionou, de que ciclano tem obrigação de ganhar, entre muitos outros comentários do mesmo tipo, é revoltante. Esquecem que durante os quatro anos que separam uma olimpíada de outra, eles são totalmente esquecidos e lutam com todas as suas forças, força essa que deveria ser direcionada apenas para melhorar seu rendimento, para conseguir, por exemplo, uma inscrição de uma determinada competição, bancar uma passagem aérea para competir, ter uma boa suplementação, ter um equipamento básico, e muitas reticências, pois os exemplos do que o atleta brasileiro passa para tentar figurar entre os melhores do mundo são inacreditáveis. Hoje tivemos um exemplo vergonhoso de como nosso país não dá a mínima para qualquer modalidade que não o futebol. Durante a prova de ciclismo, na modalidade de contra-relógio, o brasileiro Magno Prado largou com seu uniforme preso por alfinetes, pois o zíper estragou e não fechou, dá pra acreditar que um atleta de nível olímpico, o mais alto conhecido, não tem nem se quer um uniforme reserva? Isso parece piada, mas vindo do Brasil nada é surpresa. Infelizmente tenho que concordar que o Brasil é o país do futebol, isso é mais do que claro, e esse sim é o único esporte que o Brasil tem a obrigação de no mínimo conquistar o 1º lugar, não considero nada menor do que isso aceitável, pois é nele que todo o dinheiro do nosso país é destinado, é nele que estão as grandes "estrelas" multi milionárias que rasgam dinheiro para chutar uma bola. Já que todas as outras modalidades vivem sobre sua sombra, o mínimo que se espera é uma medalha de ouro. Em uma Olimpíada são distribuídas as seguintes quantidades de medalha por modalidade:

Atletismo 141 medalhas; Natação 102; Ciclismo 63, Tiro 45; Ginástica 42; Boxe 39; Futebol 6.
Isso explica algo? Que infelicidade essa escolha de torrar tudo no futebol, mas já que é assim, a cobrança de todos os verdadeiros atletas, deveria ser proibida! Os críticos de plantão que a meu ver não entendem nada de esporte, só de futebol, deveriam beijar o chão que eles pisam e serem gratos, pois só o fato desses atletas terem conseguido chegar a uma Olimpíada, por conta própria, já é uma conquista muito maior do que qualquer jogador de futebol um dia vai sonhar em conseguir.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

"Ai Love Sampa"



Ah, minha linda cidade de São Paulo, terra da garoa, a amo de paixão. Impossível descrevê-la em simples palavras. Uma cidade brutal, cosmopolita, caleidoscópica, espantosa, dinâmica, vibrante, violenta, improvisadora, contraditória, ousada e por aí vai.
Escrever sobre São Paulo é uma temeridade. É um teste de múltiplas escolhas. Do que escrever? Escrever sobre a São Paulo dos nossos sonhos? Sobre a cidade surpresa? Sobre os sons, os sabores, a sofisticação, os sotaques da cidade?
Uma vez, ouvi dizer, que esta cidade tem o charme de Paris, não posso afirmar, pois lá nunca estive, mas ela tem sim, todo um charme, um encanto, um brilho tão formoso, que é impossível não notar. A cultura de Londres? Não sei, mas aqui há cultura, para todos os tipos, gostos e povos. Pode até ser que ela tenha esse "quê" gringo, mas São Paulo é São Paulo, com sua própria identidade sendo formada pela soma de tudo isso: grande, charmosa e "multitudo". Aqui os sonhos acontecem e aparecem, a esperança impera e isso pode ser visto no brilho dos olhos das pessoas que aqui depositam essa fé.
Amo São Paulo pelos contrastes entre o belo e pelo feio, o bom e o ruim, o antigo e o moderno. Amo a São Paulo dos extremos e seu visual caótico, com prédios de todos os tipos, tamanhos e cores; o vermelho, verde e amarelo dos sinaleiros nas esquinas; suas mil faces brancas, amarelas, negras, pardas; seus veículos coloridos e roupas ainda mais.
Amo sua mistura de sons: buzinas, carros barulhentos, helicópteros, sirenes, trens, metrôs, cantores anônimos mandando o seu recado pelas praças e ônibus, pregadores das mais diversas religiões, pedintes, o vozerio confuso, as palavras de ordem das greves que invadem as principais avenidas, o clamor por justiça, paz e igualdade... isso é o que dá vida a minha cidade!
Amo os cheiros de São Paulo: cheiro de gasolina, de pastel da feira, da comida típica de cada esquina, de perfume barato, perfume caro, cheiro de gente, cheiro das frutas do mercado, cheiro de caju, maracujá, manga e goiaba, uma mistura única e deliciosa, aquele cheiro gostoso de dar água na boca! Cheiro de pão fresco na madrugada é do café de cada esquina!
Amo as coisas estranhas da cidade de São Paulo! É a terra do café, mas o seu principal viaduto é o do chá. Uma rua chamada Direita, mas que tá mais para esquerda do que meu humor na TPM. Tem uma Rua Formosa que é muito, muito feia, acho que quem a nomeou não procurou saber o significado da palavra ou tem um olhar muito aquém do meu. E a Rua das Palmeiras, que nem sequer tem uma árvore, quanto mais palmeira.
Amo os sotaques de São Paulo, com uma língua própria misturada no caldeirão de raças que aqui chegaram e instalaram moradia.
Amo a São Paulo multicultural e multiracial, amo a cidade que aceita incondicionalmente e sem preconceitos o que quer que nela queira se instalar.
Enfim, amo tudo de São Paulo. E por amor aceito suas qualidades e seus defeitos, suas vantagens e desvantagens. Quero escrever sobre ela, passar minhas emoções, compartilhar com outros que lhe dedique idêntico amor.
E se você me perguntar, onde é que está essa cidade, tão logo vou lhe responder, bem diante dos teus olhos, pois como disse Olavo Bilac "só quem ama é capaz de ouvir e entender as estrelas", então, talvez o que lhe falte, não seja um olhar crítico ou atencioso, e sim amor por essa linda e bela cidade!

 


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Feliz Dia do Amigo



Minha singela contribuição à todos os meus camaradas d'gua, aqueles que mesmo perto, mesmo longe, fazem a minha vida valer a pena, a hora que for e não for!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

As Coisas Boas da Vida


Por Rubem Braga

Uma revista mais ou menos frívola pediu à várias pessoas para dizer "as dez coisas que fazem a vida valer a pena". Sem pensar demasiado, fez esta pequena lista:
Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto ao melado? Dá. Gosto de infância, de tarde na fazenda.
Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecerem.
Quando você vai andando por um lugar e há um bate bola, sentir que a bola vem para o seu lado e, de repente, dar um chute perfeito - e ser aplaudido pelos serventes de pedreiro.
Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão inveja na gente e vontade de reler.
Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade - ou que uma grande amizade está virando, de repente, amor.
Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de espírito e frustração da carne - a mulher que não te deu e não te dá, essa amaldiçoada.
Viajar, partir...
Voltar.
Quando se vive na Europa, voltar para Paris (realmente deve ser muito bom...rsrs...), quando se vive no Brasil, voltar para o Rio.
Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte - o assim chamado descanso eterno.

Abaixo, a minha lista:

1) Rir, mas rir tanto, de doer a barriga e ter a impressão que o rim vai sair pelo umbigo;
2) Chocolate;
3) O pôr do sol na Casa de Pedra em São Thomé das Letras;
4) Ficar um domingo inteiro de pijama, sem nem colocar o focinho pra fora;
5) Cheiro de terra molhada;
6) Comer fruta tirada do pé;
7) O arroz de leite da minha vóvis;
8) Ouvir "eu te amo" da pessoa amada;
9) A 9ª Sinfonia;
10) Cantar aquela música que você ama a plenos pulmões, não importanto se está afinado ou não.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um Dia de Chuva


 
Dia de chuva, os pingos caem lentamente, atrasando relógios, quase que parando o tempo. O vai e vém das pessoas torna-se algo parado, monótono, enfadonho. Do outro lado da rua, está um cachorro, molhado, cabisbaixo. Um lavador de carros sentado, com o olhar perdido, e como numa brincadeira, arrisco adivinhar o que ele está pensando: "num dia de chuva não se tem o que fazer, ninguém trará o seu carro para lavar..."solto um sorriso. Perto dali, uma árvore em que as aves descansam e se escondem da chuva e do frio, contraindo seus corpinhos, lado a lado, numa comunhão linda de se ver. Visto isso, resolvo sacodir a preguiça que o dia pede para longe, afinal, que coisa mais linda que é a chuva!
No ponto de ônibus todo mundo se expreme feito suco de laranja, a procura de um cantinho coberto para se esconder, mesmo assim a chuva molha. Ao fundo um ônibus anuncia e quando ele chega, segura peão, todos querem entrar ao mesmo tempo, atrapalhando aquele que quer sair. É guarda-chuva abrindo, é guarda-chuva fechando, guarda chuva voando, guarda chuva que nada guarda. O meu pinga, o dos outros briga. Vendo essa gente brigando, o motorista buzinando e os pedestres se molhando, resolvo aguardar o próximo ônibus, pois de laranja espremida, basta aquela que saciou a minha sede no café da manhã. 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Desaperta o Pause

Não é novidade para ninguém, o quanto eu A-M-O música e o quanto eu tenho ouvido incessantemente Mumford & Sons.
Esses ingleses conseguiram conquistar os meus ouvidos e meu coração com um folk rock que soa original, com letras carregadas de espiritualidade e com uma perspectiva humana e sincera.
The Cave é o belo exemplo disso, pois seu refrão otimista irrompe na bela voz e interpretação de Marcus Mumford, sendo acompanhado por uma explosão instrumental, resultando numa bela harmonia. Um raro caso de música feliz que me faz chorar.
Essa música me traz essa sensação de liberdade do clipe: o vento batendo no rosto no fim da tarde, a emoção de ficar em pé na moto, a ousadia de pegar um instrumento e sair cantando e tocando bem alto, aos quatro ventos...
Uma música contagiante, que começa suave, como se fosse um simples bolo assado, que ao final, depois de adicionados todos os ingredientes secretos, ela vai encorpando, e se torna uma música complexa e linda de escutar, assim como aquele bolo quentinho com o chá da vovó no final da tarde.
Desafio ouvir e não se apaixonar!



sexta-feira, 6 de julho de 2012

E Assim Surge Uma História

"A mulher é filha de sua mãe e mãe de sua filha. A mulher tem o sentimento de responsabilidade sobre a vida humana. Dá a vida através da morte porque quase morre dando a luz".



Ela é o maior exemplo de humildade que eu conheço. Deu-me chances de aprender muito sobre tantas coisas. Mostrou-se forte quando o mundo desmoronou em sua vida e os problemas tomaram proporções gigantescas e teve a humildade de passar para outras mãos as rédeas da situação, quando reconheceu que não tinha mais condições de tocar adiante, na dianteira de tudo. Ela é extremamente sábia, tem a grandeza de espírito para se manter firme quando a tempestade passa e  arrasta tudo que não é rocha. Ela viu seus "amigos" se afastando, um a um, e foi assim que descobriu o verdadeiro sentido de tudo. Ela errou, mas sei que nunca se perdoou por isso. Ela se culpa e esse é o único motivo que a impede de ser plena e completa. Mas até o seu erro serviu para me fazer crescer, e eu cresci tanto, tanto, que hoje cuido dela e tento protegê-la de tudo o que possa lhe fazer mal. Algumas vezes ela é rancorosa, mas entendo que ficariam algumas sequelas daqueles dias tão difícies. Que bom que as sequelas foram mínimas. Hoje ela não tem mais um andar tão firme, precisa de bastão para se apoiar. Seus cabelos negros perderam espaço e os fios brancos cobrem sua cabeça e é neles que deposito um beijo todos os dias. Hoje ela tem um olhar diferente, tem uma vida diferente e, embora ela pense que cometeu um grande erro, eu sei que tudo o que aconteceu só serviu para manobrar minha vida à um caminho melhor. Ela é minha heroína, uma heroína de verdade: com defeitos, mágoas e dores. Uma heroína imensa em força. Ela é minha maior lição. Ela é minha mãe.

Sim, essa foto me contou exatamente essa história...

terça-feira, 3 de julho de 2012

A Teoria



A primeira vez que me atentei para o fato foi aos 10 anos mais ou menos. E ficou marcado para mim como uma prova de fidelidade ou talvez apenas mais uma lição rasteira dessas que a vida nos dá – dependendo obviamente da sua subjetividade.
O fato é que desde pequena, o mesmo fenômeno vem me impressionar: a cumplicidade entre os moradores de rua e seus bichos de estimação.
Aparentemente há uma espécie de “contrato” firmado entre ambas as partes. O que eu interpreto, na minha divagação de boteco, como algo metafísico: o cachorro compreende que ele e seu "dono" se encontram na mesma situação limite e marginal,  por isso valoriza cada pedaço de pão compartilhado, cada folha de jornal que espanta o frio, cada caixa de papelão ou tentativa de lar.
Não é preciso coleira para cachorro de mendigo. Se não, vejamos: basta ao cão fugir, pois para ele há toda uma infinidade de ruas com seus restos de comida e poças d’água. Para o vira-lata não seria uma queda de padrão tão acentuada. Pelo contrário, levando-se em conta todo o sabor da liberdade – mesmo que miserável - com um importante adendo: as cadelinhas errantes em pleno cio. Mas eles permanecem ali, pelas calçadas e sarjetas escuras e sujas, fiéis aos seres que dividem com ele cada recanto das suas misérias. O cão e o homem unidos por um mesmo propósito: sobreviver.
E é aí que penso na capacidade humana de compartilhar. Coisas materiais, emoções, ideias...
Sabemos realmente fazer isso?
E assim, volto aos meus 10 anos, com a minha antiga certeza - derivada da minha apressada teoria de criança - de que podemos ser mais por muito menos.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Pedido

Ontem, ao tentar arrumar minha bagunça, deparei-me com uma carta, na verdade com um pedido, de alguém que há 7 anos se foi, mas que me deixou muitas lembranças bonitas e boas, algumas tristes, porém não menos importantes, e que acima de tudo, deixou muita saudade! 

"...antes de mais nada, vou lhe fazer um pedido. Aliás, eu não. Vinícius de Moraes, pois no fim das contas, ele sabe pedir, infinitamente, melhor que eu."

"Se eu morrer antes de você, faça-me um favor:
Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado.
Se não quiser chorar, não chore.

Se não conseguir chorar, não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.
Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles.
Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei.
Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase :
'Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!'
Aí, então derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar.
E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus.
Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele.
E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas ? Sim?
Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Eu não vou estranhar o céu, sabe por que?
Porque ser seu amigo já é um pedaço dele!"

terça-feira, 26 de junho de 2012

Quando as Palavras me Faltam

Quando as palavras me faltam, procuro sempre alguém para falar por mim, e hoje concedo-a à Caio Fernando Abreu...

"Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem. Tô aproveitando tudo de bom que essa nova vida tem. Tô me dedicando de verdade para agradar um outro alguém. Tô trazendo pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também. Ultimamente eu só tô querendo ver o "bom" que todo mundo tem. Relaxa! Respira! Se irritar é bom para quem? Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu não conheço ninguém. Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até os cem. Tô feliz, tô despreocupado e com a vida tô de bem."

E de um ano para cá, reparei que tô bem assim, e escolhi esse trecho de CFA na tentativa de fazer as pessoas entenderem o que venho tentando entender (meio louco isso, mas sei que é assim): a felicidade passa o dia quase todo esperando por um brecha de nossa parte, um descuido, para que assim ela possa aparecer...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ode à Alegria

O cenário é a Sala São Paulo, a orquestra é a Sinfônica de Tatuí e a obra é a 9ª Sinfonia de Ludwig Van Beethoven e a personagem eu, uma Carolina Almeida Senra que não consegue se reconhecer, uma Carolina que esboça um sorriso bobo no rosto, com borboletas que voam pelo seu estômago e com as mãos mais molhadas que a cidade de São Paulo num dia chuvoso.
Palavras me faltam para descrever o que senti, mas sei que foi uma alegria desenfreada que pôde ser constatada pelas lágrimas que escorriam para o meu sorriso bobo de criança ao ganhar o presente que queria no Natal. E como me faltam palavras para descrever meus sentimentos, vou enrolar um pouquinho...
Certa vez, Beethoven chegou a afirmar: "atingi tal grau de perfeição que me encontro acima de qualquer crítica". Difícil discordar! Afinal, é consenso dizer que Beethoven está para o mundo da música assim como Shakespeare está para o da literatura e Michelangelo para o das artes (segundo o meu consenso e de algumas pessoas aí, que não me recordo no momento...rsrsrs...).
Partindo desse pressuposto, poderíamos (eu e o meu consenso) dizer que a 9ª Sinfonia se confunde com a nossa própria representação como seres humanos. Composta num momento equivalente ao nosso despertar (o Iluminismo), é entre seus acordes, ritmo e letra que o mundo tem hoje a sua forma atual: um belo retrato musicado da alma de todos os seres humanos, controversos por essência, frágeis por natureza e extremamente criativos. Se a linha que separa a loucura da sanidade é tênue, existe um fosso gigantesco, separando a genialidade da mediocridade, e aqui, referimo-nos à genialidade de Ludwig Van Beethoven.
Abaixo, o poema escrito por Friedrich Schiller, e que inspirou obra tão magnífica! Juro que me arrepio, só de lembrar da leitura de ontem...

Ode à Alegria
 "Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora".



terça-feira, 19 de junho de 2012

Um Dia Cinza


"Têm dias em que a gente se sente, um pouco talvez menos gente, um dia daqueles sem graça, de chuva  a cair na vidraça..."
(Raul Seixas - As Profecias)

E é com os primeiros versos do grande Raul, que me inspiro no dia de hoje, afinal têm dias em que a gente acorda meio "assim", assim meio apática e alheia ao que acontece na visão de uns, ou mal humorada e sem saco para conversa na visão de outros. Mas fazer o que? Têm dias em que a gente acorda assim sem vontade de papear muito, querendo não ver muita gente, sem vontade de cantar uma canção feliz, sentindo aquela vontade imensa de emergir em si mesmo, ah e como é bom!
Tem dia em que a manhã é mais cinza, que o sol é menos quente e que a gente é mais da gente mesmo. Tem dia que não importa muito o tempo lá fora, se chove ou faz sol, se tem brisa ou calor, não importa porque a gente não vai sair de dentro da gente, nem que a vaca tussa e os anjos digam amém.
E são nesses exatamente que nos bate uma saudade imensa de lugares, de momentos, de pessoas e sentimentos. Uma saudade que veste a alma da gente como se fosse um manto e que abraça tudo o que tem aqui dentro. Às vezes a gente até chora, chora e chora um choro tão sentido, que vem de uma saudade tão profunda, tão concreta, quase palpável, que dá a impressão de que se fizermos aquela forcinha, nos teletransportaremos ao passado, mas aí a ficha cai e deixamos o passado aonde ele deve ficar, muito embora ainda se sinta o cheiro, o toque, o sentimento. E muito embora tudo esteja tão imaculadamente guardado dentro de nós, embora a gente queira tanto viver novamente, prender entre as mãos, segurar de encontro ao peito, nada volta e a gente vai se enchendo apenas das lembranças e se alimentando delas.
Têm dias em que a gente está triste, mas não uma tristeza destruidora, apenas uma "tristeza branca", do bem (sim, a tristeza é minha e eu dou o nome que eu quiser...rs...), uma tristeza que até nos embeleza porque nos aproxima de nós mesmos, nos faz ficar sozinhos em nossa companhia, nos faz remexer no que está aqui dentro, no que é medo, no que é desejo, no que é nosso, nos deixa acariciar o íntimo e a gente vê como somos belos e como esquecemos de olhar para isso.
Alguns dias chegam assim, trazendo um passado que não volta, mas que é parte de nós. Um passado que 'É' e não um passado que 'FOI', afinal nós somos o resultado daquilo que vivemos, então, embora eu não possa voltar no tempo, trazer de novo quem já partiu, viver de novo um amor acabado, sentir de novo o abraço desfeito, embora eu não tenha esse poder, eu sei que o que eu sou hoje é o resultado de tudo isso que eu vivi, e por isso tudo isso não sai de mim, ao contrário, é parte de mim. 


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Todo Mundo Tem Uma História Para Contar

Todo mundo tem uma história para ouvir, para contar e registrar, pois é justamente nesse mosaico de vidas tão diferentes, tão únicas, comuns e anônimas que a história de um povo e lugar é feita, não apenas as histórias de quem "ficou famoso", de quem "virou doutor" ou de quem está presente nos anais do país. As histórias vêm sendo feitas a todo momento, elas não estão prontas nunca, vêm sendo tecidas e construídas pelo nosso viver! Todo mundo tem uma história para contar, e nós, muitas vezes, não nos damos conta disso! E foi pensando nisso que afirmo: sua vida vale um livro. Um livro recheado de histórias de encontros e desencontros, romance, comédia, drama, de viagens e paradas para descansar.
E é por isso, que lhes deixo a minha história preferida "A Ciranda da Bailarina" tão bem contada e cantada por Chico Buarque...