terça-feira, 26 de junho de 2012

Quando as Palavras me Faltam

Quando as palavras me faltam, procuro sempre alguém para falar por mim, e hoje concedo-a à Caio Fernando Abreu...

"Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem. Tô aproveitando tudo de bom que essa nova vida tem. Tô me dedicando de verdade para agradar um outro alguém. Tô trazendo pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também. Ultimamente eu só tô querendo ver o "bom" que todo mundo tem. Relaxa! Respira! Se irritar é bom para quem? Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu não conheço ninguém. Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até os cem. Tô feliz, tô despreocupado e com a vida tô de bem."

E de um ano para cá, reparei que tô bem assim, e escolhi esse trecho de CFA na tentativa de fazer as pessoas entenderem o que venho tentando entender (meio louco isso, mas sei que é assim): a felicidade passa o dia quase todo esperando por um brecha de nossa parte, um descuido, para que assim ela possa aparecer...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ode à Alegria

O cenário é a Sala São Paulo, a orquestra é a Sinfônica de Tatuí e a obra é a 9ª Sinfonia de Ludwig Van Beethoven e a personagem eu, uma Carolina Almeida Senra que não consegue se reconhecer, uma Carolina que esboça um sorriso bobo no rosto, com borboletas que voam pelo seu estômago e com as mãos mais molhadas que a cidade de São Paulo num dia chuvoso.
Palavras me faltam para descrever o que senti, mas sei que foi uma alegria desenfreada que pôde ser constatada pelas lágrimas que escorriam para o meu sorriso bobo de criança ao ganhar o presente que queria no Natal. E como me faltam palavras para descrever meus sentimentos, vou enrolar um pouquinho...
Certa vez, Beethoven chegou a afirmar: "atingi tal grau de perfeição que me encontro acima de qualquer crítica". Difícil discordar! Afinal, é consenso dizer que Beethoven está para o mundo da música assim como Shakespeare está para o da literatura e Michelangelo para o das artes (segundo o meu consenso e de algumas pessoas aí, que não me recordo no momento...rsrsrs...).
Partindo desse pressuposto, poderíamos (eu e o meu consenso) dizer que a 9ª Sinfonia se confunde com a nossa própria representação como seres humanos. Composta num momento equivalente ao nosso despertar (o Iluminismo), é entre seus acordes, ritmo e letra que o mundo tem hoje a sua forma atual: um belo retrato musicado da alma de todos os seres humanos, controversos por essência, frágeis por natureza e extremamente criativos. Se a linha que separa a loucura da sanidade é tênue, existe um fosso gigantesco, separando a genialidade da mediocridade, e aqui, referimo-nos à genialidade de Ludwig Van Beethoven.
Abaixo, o poema escrito por Friedrich Schiller, e que inspirou obra tão magnífica! Juro que me arrepio, só de lembrar da leitura de ontem...

Ode à Alegria
 "Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora".



terça-feira, 19 de junho de 2012

Um Dia Cinza


"Têm dias em que a gente se sente, um pouco talvez menos gente, um dia daqueles sem graça, de chuva  a cair na vidraça..."
(Raul Seixas - As Profecias)

E é com os primeiros versos do grande Raul, que me inspiro no dia de hoje, afinal têm dias em que a gente acorda meio "assim", assim meio apática e alheia ao que acontece na visão de uns, ou mal humorada e sem saco para conversa na visão de outros. Mas fazer o que? Têm dias em que a gente acorda assim sem vontade de papear muito, querendo não ver muita gente, sem vontade de cantar uma canção feliz, sentindo aquela vontade imensa de emergir em si mesmo, ah e como é bom!
Tem dia em que a manhã é mais cinza, que o sol é menos quente e que a gente é mais da gente mesmo. Tem dia que não importa muito o tempo lá fora, se chove ou faz sol, se tem brisa ou calor, não importa porque a gente não vai sair de dentro da gente, nem que a vaca tussa e os anjos digam amém.
E são nesses exatamente que nos bate uma saudade imensa de lugares, de momentos, de pessoas e sentimentos. Uma saudade que veste a alma da gente como se fosse um manto e que abraça tudo o que tem aqui dentro. Às vezes a gente até chora, chora e chora um choro tão sentido, que vem de uma saudade tão profunda, tão concreta, quase palpável, que dá a impressão de que se fizermos aquela forcinha, nos teletransportaremos ao passado, mas aí a ficha cai e deixamos o passado aonde ele deve ficar, muito embora ainda se sinta o cheiro, o toque, o sentimento. E muito embora tudo esteja tão imaculadamente guardado dentro de nós, embora a gente queira tanto viver novamente, prender entre as mãos, segurar de encontro ao peito, nada volta e a gente vai se enchendo apenas das lembranças e se alimentando delas.
Têm dias em que a gente está triste, mas não uma tristeza destruidora, apenas uma "tristeza branca", do bem (sim, a tristeza é minha e eu dou o nome que eu quiser...rs...), uma tristeza que até nos embeleza porque nos aproxima de nós mesmos, nos faz ficar sozinhos em nossa companhia, nos faz remexer no que está aqui dentro, no que é medo, no que é desejo, no que é nosso, nos deixa acariciar o íntimo e a gente vê como somos belos e como esquecemos de olhar para isso.
Alguns dias chegam assim, trazendo um passado que não volta, mas que é parte de nós. Um passado que 'É' e não um passado que 'FOI', afinal nós somos o resultado daquilo que vivemos, então, embora eu não possa voltar no tempo, trazer de novo quem já partiu, viver de novo um amor acabado, sentir de novo o abraço desfeito, embora eu não tenha esse poder, eu sei que o que eu sou hoje é o resultado de tudo isso que eu vivi, e por isso tudo isso não sai de mim, ao contrário, é parte de mim. 


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Todo Mundo Tem Uma História Para Contar

Todo mundo tem uma história para ouvir, para contar e registrar, pois é justamente nesse mosaico de vidas tão diferentes, tão únicas, comuns e anônimas que a história de um povo e lugar é feita, não apenas as histórias de quem "ficou famoso", de quem "virou doutor" ou de quem está presente nos anais do país. As histórias vêm sendo feitas a todo momento, elas não estão prontas nunca, vêm sendo tecidas e construídas pelo nosso viver! Todo mundo tem uma história para contar, e nós, muitas vezes, não nos damos conta disso! E foi pensando nisso que afirmo: sua vida vale um livro. Um livro recheado de histórias de encontros e desencontros, romance, comédia, drama, de viagens e paradas para descansar.
E é por isso, que lhes deixo a minha história preferida "A Ciranda da Bailarina" tão bem contada e cantada por Chico Buarque...



quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ah, Bela Nona!

A pergunta que hoje ronda a minha cabecinha: como teria sido a primeira vez em que ouvi a Nona Sinfonia?
 
Fico muda perante essa obra genial. Que força da natureza humana possibilita a construção de tal obra? Nada pode me dar essa resposta.

Escrita no período romântico, foi a última dentre aquelas compostas por Ludwig van Beethoven. Foi apresentada pela primeira vez em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena, na Áustria. O regente foi Michael Umlauf, diretor musical do teatro, e Beethoven – dissuadido da regência pelo estado implacável de sua surdez – teve direito a um lugar especial junto ao maestro. Esta foi a primeira sinfonia na história a utilizar a voz humana, que figura no quarto movimento, com um coro e quatro solistas, sobre a poesia, modificada por Beethoven, do original de Friedrich Schiller “Ode an die Freude” (Ode à Alegria). Este movimento, assim como uma versão modificada do poema de Schiller, foi escolhido como Hino da União Européia, pela síntese que faz de ideais clássicos ligados ao Humanismo, à Fraternidade, à Liberdade e à Igualdade.
Os sons que ele nos oferece, nos movem a um espaço divinamente inspirado. Essa sinfonia é uma daquelas composições geniais que mexem com a minha imaginação e com tudo o que tenho dentro de mim!

Arrepio-me da cabeça aos pés ao lembrar que divina obra foi construída por uma pessoa surda, e que a ouviu apenas em sua imaginação! Mas para que ouvir, pois tenho a certeza, de que como dois e dois são quatro, que ele a sentiu sair e entrar por cada poro de seu corpo, a percorrer sua pele e seu íntimo, e lhe sendo algo tão particular, sentiu a necessidade de dividi-la com o mundo. Graças!

Alegria, tensão, enfim, um misto de sentimentos compartilhados, sentidos e escancarados aos quatro ventos, enfim, não é algo a se descrever com palavras, e sim de escutar com o coração, como ele tão bem o fez!

Faço-lhes um convite: dêem-se a oportunidade de ouvi-la por completo! Garanto que cada minuto vale a pena, e que não irão se arrepender!


"Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!"
(Trecho do Coro da 9ª Sinfonia de Beethoven inspirado no poema "Ode à Alegria" de Schiller)






 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

Já tem algum tempo que não passo por aqui, mas volto disposta a fazer-lhes refletir sobre os costumes que a vida nos traz...

"A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma".

Por Marina Colasanti