(Raul Seixas - As Profecias)
E é com os primeiros versos do grande Raul, que me inspiro no dia de hoje, afinal têm dias em que a gente acorda meio "assim", assim meio apática e alheia ao que acontece na visão de uns, ou mal humorada e sem saco para conversa na visão de outros. Mas fazer o que? Têm dias em que a gente acorda assim sem vontade de papear muito, querendo não ver muita gente, sem vontade de cantar uma canção feliz, sentindo aquela vontade imensa de emergir em si mesmo, ah e como é bom!
Tem dia em que a manhã é mais cinza, que o sol é menos quente e que a gente é mais da gente mesmo. Tem dia que não importa muito o tempo lá
fora, se chove ou faz sol, se tem brisa ou calor, não importa porque a gente não
vai sair de dentro da gente, nem que a vaca tussa e os anjos digam amém.
E são nesses exatamente que nos bate uma saudade imensa de lugares, de momentos, de pessoas e sentimentos. Uma saudade que veste
a alma da gente como se fosse um manto e que abraça tudo o que tem aqui dentro.
Às vezes a gente até chora, chora e chora um choro tão sentido, que vem de uma saudade tão
profunda, tão concreta, quase palpável, que dá a impressão de que se fizermos aquela forcinha, nos teletransportaremos ao passado, mas aí a ficha cai e deixamos o passado aonde ele deve ficar, muito
embora ainda se sinta o cheiro, o toque, o sentimento. E muito embora tudo
esteja tão imaculadamente guardado dentro de nós, embora a gente queira tanto
viver novamente, prender entre as mãos, segurar de encontro ao peito, nada volta
e a gente vai se enchendo apenas das lembranças e se alimentando
delas.
Têm dias em que a gente está
triste, mas não uma tristeza destruidora, apenas uma "tristeza branca", do bem (sim, a tristeza é minha e eu dou o nome que eu quiser...rs...),
uma tristeza que até nos embeleza porque nos aproxima de nós mesmos, nos faz
ficar sozinhos em nossa companhia, nos faz remexer no que está aqui dentro, no
que é medo, no que é desejo, no que é nosso, nos deixa acariciar o íntimo
e a gente vê como somos belos e como esquecemos de olhar para
isso.
Alguns dias chegam assim,
trazendo um passado que não volta, mas que é parte de nós. Um passado que 'É' e
não um passado que 'FOI', afinal nós somos o resultado daquilo que vivemos,
então, embora eu não possa voltar no tempo, trazer de novo quem já partiu, viver
de novo um amor acabado, sentir de novo o abraço desfeito, embora eu não tenha
esse poder, eu sei que o que eu sou hoje é o resultado de tudo isso que eu vivi,
e por isso tudo isso não sai de mim, ao contrário, é parte de
mim.
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