terça-feira, 3 de julho de 2012

A Teoria



A primeira vez que me atentei para o fato foi aos 10 anos mais ou menos. E ficou marcado para mim como uma prova de fidelidade ou talvez apenas mais uma lição rasteira dessas que a vida nos dá – dependendo obviamente da sua subjetividade.
O fato é que desde pequena, o mesmo fenômeno vem me impressionar: a cumplicidade entre os moradores de rua e seus bichos de estimação.
Aparentemente há uma espécie de “contrato” firmado entre ambas as partes. O que eu interpreto, na minha divagação de boteco, como algo metafísico: o cachorro compreende que ele e seu "dono" se encontram na mesma situação limite e marginal,  por isso valoriza cada pedaço de pão compartilhado, cada folha de jornal que espanta o frio, cada caixa de papelão ou tentativa de lar.
Não é preciso coleira para cachorro de mendigo. Se não, vejamos: basta ao cão fugir, pois para ele há toda uma infinidade de ruas com seus restos de comida e poças d’água. Para o vira-lata não seria uma queda de padrão tão acentuada. Pelo contrário, levando-se em conta todo o sabor da liberdade – mesmo que miserável - com um importante adendo: as cadelinhas errantes em pleno cio. Mas eles permanecem ali, pelas calçadas e sarjetas escuras e sujas, fiéis aos seres que dividem com ele cada recanto das suas misérias. O cão e o homem unidos por um mesmo propósito: sobreviver.
E é aí que penso na capacidade humana de compartilhar. Coisas materiais, emoções, ideias...
Sabemos realmente fazer isso?
E assim, volto aos meus 10 anos, com a minha antiga certeza - derivada da minha apressada teoria de criança - de que podemos ser mais por muito menos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário