quinta-feira, 21 de julho de 2011

Causos da vida real

Dona Benedita é uma simpática e adorável velhinha que todos conhecem por Bene. Está beirando os oitenta anos, que como ela mesma diz: "oitenta anos muito bem vividos e felizes." É feliz, logo sua família também o é. Esses quase oitenta anos lhe renderam duas filhas solteiras e um filho casado. Natalino, o filho, tem uma esposa dedicada e fiel, assim como sua mãe foi, e esse casamento harmonioso presenteou Dona Bene (como ela gosta de dizer) com três lindos netinhos, sapecas, curiosos e cheios de vida. Apesar de nada lhes faltar, eles trabalham duro para dar à família e à Dona Bene o conforto merecido que a sociedade moderna permite. Dona Bene, assim como seu filho, foi muito bem casada com o já  falecido Seu José (Zé, como gostava de ser chamado), que Deus levou aos setenta e oito anos, cheio de brilho nos olhos e poucos cabelos, brancos como um chumaço de algodão. Seu casamento durou mais de cinquenta anos e o casal cumpriu rigorosamente a promessa feita diante do altar, sendo fiéis um ao outro até que a morte os separou. Falecido o seu marido, Dona Bene, enfrentou com alegria e vivacidade o azar que a vida lhe causou: levar o seu amado marido antes dela. Com a morte do Seu Zé, os filhos e os netos garantem e proporcionam a Dona Bene o calor e o carinho de um lar abençoado, o que tornou possível suportar a dor da partida do querido pai e marido. A aposentadoria que o Seu Zé deixou é bem modesta: apenas um salário mínimo mensal que a Dona Bene, vai sem falta e atraso buscar mensalmente, em uma das agências do Banco do Brasil, no bairro do Limão. Nenhum dos filhos, jamais colocou as mãos no dinheiro da mamãe, para que ela possa gastar na satisfação de seus humildes desejos, sabe, aquelas pequenas utilidades de uma senhora com quase oitenta anos. Em casa nada lhe falta. Dona Bene nada diz e nada lhe é perguntado sobre o dinheiro da aposentadoria. O filho sempre teve certeza que esse salariozinho estava sendo bem usado pela sua mãezinha querida, pela qual devota um amor intenso e incondicional. Mas, de uns tempos para cá, Dona Bene anda sem um centavo sequer no bolso, muito embora sua pequena pensão continue a cair pontualmente todo mês. A nora sem conseguir entender como que uma senhora sozinha, de quase oitenta anos, sem nunca trazer qualquer novidade para casa, como uma dessas blusas que vendem nessas bancas de camelô espalhadas por toda a cidade, estava sempre sem dinheiro, resolve avisar seu marido. Dona Bene tem alimentação, remédio, plano de saúde e serviços básicos da casa, tudo pago pelos filhos, condução gratuita e mesmo assim, seu dinheiro insistia em sumir misteriosamente. O que estaria acontecendo com o salário de Dona Bene? O filho, já a par do assunto, muito constrangido, questiona a mãe para saber o que estava acontecendo, qual era o mistério.
Eis que Dona Bene diz: "não se preocupe tanto, meu filho, não estou jogando meu dinheiro fora, nem gastanto no bingo e muito menos com um namorado vinte anos mais jovem, eu estou investindo meu dinheirinho para o bem de toda a família."
E o preocupado filho: "investindo? Como assim mãe? Em qual banco? Cadê os recibos?"
-Não, meu filho, não é em banco, é na igreja que estou frequentando durante o dia ali no centro, já que nada tenho a fazer o dia todo. Lá na fila do banco, conheci uma obreira que me contou sobre essa aplicação e o Pastor me falou que tudo que eu depositar lá na igreja dele, a nossa família vai receber dez vezes mais. É filho, isso é garantia de Jesus, ele diz, e eu acredito. Sei que estou fazendo isso para o bem de todos.
-Quer dizer que a senhora está dando todo o seu salário para o pastor? Fica sem um centavo sequer?!
- É né, meu filho, qual a parte de investir tudo você não entendeu? Esse pastor é famoso, ele aparece na televisão curando as pessoas de tudo quanto é doença e desgraceira que pode se abater nas suas cabeças, e isso tudo meu filho, em nome de Jesus. Eu vi, por isso acredito filho, acho que investir na igreja do pastor vai ser uma benção para a nossa família.
Pois é, Dona Bene, continua simpática e adorável, como sempre foi, mas não tem mais o seu Zé para protegê-la dos espertalhões e cuidar das suas coisinhas. Agora o que ela tem é um pastor! Pobre da Dona Bene! Que Deus a proteja, porque as autoridades não vão. Mesmo fazendo "vista grossa", afinal isso nada tem a ver com eles, para essas autoridades o que vale é o ditado: "os cães ladram e a caravana passa." Os donos do tal banco de Cristo que toma mensalmente o dinheirinho de das tantas Donas Benes e Seus Zés estão sempre lá, na televisão gritando suas línguas e "investindo" o salário mínimo de seus cordeiros. Por sua vez, nem a justiça e nem a polícia podem ajudar Dona Bene, na verdade, não querem ajudar. E a família, nada pode fazer, pois a Dona Bene já foi iludida "pelo santo e puro sangue de Jesus".
Infelizmente, não sou eu a autora dessa triste história, senão o final seria bem diferente.

3 comentários:

  1. Que Alá diminua os dias desse pastor safado....rsrsrsr

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  2. Não adianta o Alá diminuir os dias desse pastor espertalhão,aparecerão outros, mais outros..... isso nunca vai ter fim.

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  3. É um circulo viciosa e sempre tem alguém disposto a ganhar vantagem em cima de pessoas de bem.

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