quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Aquilo que chama amor...

Ela era uma pessoa doce. Não daquelas que de tão doce chega a elevar o nível de diabetes ou formar uma nova cárie. Uma pessoa doce, gentil. Conhecia muito de muitas coisas, buscava conhecer aquilo que não sabia, amava a vida e a beleza que ela trazia e compreendia muita coisa, mais até do que os que a cercavam imaginariam que poderia compreender. Ela era uma pessoa simples. Não daquelas que de tão simples as pessoas fazem de boba. Simples no modo de ver as coisas e na maneira de colocá-las em seu devido lugar. Ela tratava-se apenas de uma parte de mim ou uma parte de você. Uma parte que se perde em algum momento da infância, adolescência ou vida adulta, não sei, afinal foi perdida, não se sabe quando, nem aonde e nem o porquê. Ela crescia claro. E foi nesse crescer que um pouco de sua simplicidade foi se perdendo, porém sempre se manteve feliz. Nem que fosse aos trancos e barrancos. Tinha um bom emprego, uma família legal, amigos que gostavam dela e ela deles, um bichinho de estimação de companhia e se divertia com frequência. Mas é óbvio, que para ela, sua diversão e seus bons amigos não eram algo comum, assim como seriam para pessoas como nós. Essa diversão e amigos eram profundos. Alguns desses amigos nem a conhecia e nela nunca nem ouviram falar. Outros nem existiam. A não ser na sua grande e produtiva imaginação. Algumas das coisas que ela fazia para se divertir eram impossíveis e impraticáveis, para nós, reles mortais, é claro. Apesar de tudo ser ótimo, não era perfeito, já que havia algo que o seu espírito não podia (ou não conseguia) atrair: o amor.
Logo o amor, que de todos os sentimentos era o que mais lhe fascinava e intrigava. Ela queria amar, mais do que tudo que já havia feito ou sentido. Até que um dia, o amor aconteceu, quase que naturalmente, num simples "oi", veio o sorriso e a pausa. Aquela pausa em que parece que o chão sumiu, o estômago fechou e o mundo parou. Outro sorriso de retribuição e tudo aconteceu. Estava ali, na sua cara e ela podia sentir. Com isso, percebeu o que era ser feita de boba pela primeira vez, o que era chorar de tristeza e de não conseguir resolver tudo tão facilmente e simplesmente. O amor, esse sentimento tão almejado e agora conquistado era muito mais que alegrias, pássaros cantando em sua janela e borboletas voando na barriga. O amor era algo alheio e exterior e agora ela compreendia que para o amor dar certo, a outra pessoa também precisava amar e retribuir esse amor, e isso, claro não aconteceu. Não dessa vez. E é claro, que ela descobriu o que é sofrer, chorar e sentir o gosto do choro, o gosto de suas lágrimas sofridas, amargas e salgadas. Não salgadas como a água do mar e nem amargo como o suco de limão. Afinal esses são possíveis de aguentar. Já o gosto amargo do amor, não.
Apesar de tudo, ela tentava se manter simples, doce e gentil. Esperava confiante que alguém legal, assim como ela, ia aparecer e lhe entregar numa bandeja o seu coração. Alguém disposto a fazer o mesmo que ela. A pessoa veio, é claro, mas os seus olhos se cruzaram e suas almas não. Deixaram assim.
Depois de muitas dores, dissabores e amores mal-resolvidos e planejados ela decidiu mudar. Era um fato quase incontestável a impossibilidade das pessoas gostarem dela assim como era e pensou que talvez, após uma mudança, alguém seria capaz de amá-la. Não deu certo, claro, mas não porque era impossível amar a "nova” pessoa, a pessoa criada através das revistas, jornais e TV,  e sim porque era muito difícil manter aquela imagem. Sustentar a imagem daquilo que você não é. Difícil, do tipo missão impossível e ao observar as outras pessoas, viu o quanto era comum e normal não ser amado por tudo e por todos. Alguns até entoavam e colocaram na sua cabeça o seguinte mantra: "se você ama, então não te amam." Então ela logo pensou: "se dando o que as pessoas querem, ainda assim não me amam, basta que eu não dê."Bastava que recusasse e bastava pôr em prática aquilo que planejou e bastou.
Tanto bastou, que em um dia qualquer. Não um ensolarado, com passarinhos cantando e crianças correndo com bexigas. Um dia comum e qualquer, ao cruzar uma esquina, ela se deparou com alguém. Com os olhos e com a alma de alguém. E agora? Nem ela sabe. Só sabe que é quando menos se espera que o amor chega e que quando ele chega, não há plano, pensamento ou resistência que o barre. Ele simplesmente invade e acalma o coração ansioso, simplesmente ama e se deixa amar.

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